Esta valsa é minha - Zelda Fitzgerald
- Livia Guimarães
- 5 de mai. de 2016
- 4 min de leitura
Os Fitzgeralds já foram citados em livros e também retratados no cinema. O que mais chega a nós são as obras de Francis Scott Fitzgerald como o Grand Gatsby e Suave é a Noite (suas obras mais celebres) porém como diz um ditado popular (talvez até machista) "Por trás de um grande homem sempre há uma grande mulher", é que eu apresento a vocês Zelda Fitzgerald, esta grande mulher que ficou a sombra do marido.

Como eu faço faculdade de Letras, é normal em algumas disciplinas ter que fazer análise de alguma obra literária. Bem, semestre passado eu tive que escolher um livro, e a minha escolha foi ESTA VALSA É MINHA da autora Zelda Fitzgerald. Escolhi esta obra pois queria apresentar para a turma um livro escrito por uma mulher - Na literatura mundial, há uma disparidade muito grande entre homens e mulheres(assim como em muitas outras atividades) - e que não fosse muito popular.
Dificilmente encontra-se na internet uma resenha desta obra, a maioria dos assuntos relacionados estão em inglês. As poucas resenhas que eu encontrei em canais literários no youtube ou mesmo em blogs, descrevem esse livro como "chato". Mas felizmente o chato para uns pode ser o maravilhoso para outros, e é por isso que eu venho aqui recomendar Esta Valsa é Minha e mostrar meu olhar sobre ele
.A obra tem como tema principal o retrato da vida da personagem Alaba Knight, sua vida, seu casamento, a submissão da mulher ( a qual ela nunca se conformou) durante a década de 20. Primeiramente você tem que tomar consciência que este é um livro autobiográfico, no qual ajuda e muito saber um pouco sobre a vida do casal previamente. Eu digo isso pois, facilitará e muito ao leitor compreender as referências que Zelda faz, e a ter uma melhor percepção dos momentos em que personagem e autora se fundem.

Colocarei aqui a sinopse que contém na orelha do livro:
Escrito em um hospital psiquiátrico em apenas seis semanas, Esta valsa é minha é, ao mesmo tempo, um texto autobiográfico, um relato de época e um irrecusável convite para penetrar um universo feminino, alegre e sensível, mas também carregado de desilusões. Num texto denso, Zelda reordena suas ideias através da personagem Alabama Knight: fala da infância à sombra de um pai austero, dos namoros e da adolescência no sul dos Estados Unidos no período entre guerras, da vida com um artista na era do jazz, do sonho de se tornar uma bailarina profissional, das viagens à Europa, das festas e do álcool. Imagens inusitadas e a visão de um vazio cortante pontuam a narrativa de Zelda, uma mulher fascinante que, a exemplo de seu alter ego, jamais se conformou em ser apenas esposa de F. Scott Fitzgerald. Enquanto ele trabalhava em Suave é a noite- que muitos críticos consideram sua obra-prima -, Zelda preparava sua própria versão daquela mesma história.
“Zelda escrevia para se justificar, para se compreender, para se salvar. Para orientar a si própria dentro daquele poço onde tinha caído e que, até hoje, por falta de outra palavra mais adequada, chamamos de ‘loucura’.” - Caio Fernando Abreu, 1986"

Qual é o limite entre a genialidade e a loucura?" Será que uma mulher que foi capaz de escrever um livro do nível de Essa valsa é minha poderia ser considerada louca? Será mesmo que ela invejava o marido como muitos críticos como Ernest Hemingway disse? Ou será que ela estava procurando se encontrar durante a famosa crise de identidade nos vinte e poucos anos? E este livro foi não somente uma busca por si mesma, como uma forma de extravasar sobre seu casamento falido que não foi nada como ela sonhou?
Muitas pessoas podem achar o livro enfadonho por não estarem de certa forma habituados ou por não se adaptarem a uma narração com ritmo temporal diferente (não sei se eu poderia dizer temporal ou sequencial diferente) Bem, o que eu quero dizer com isso é que Zelda faz grandes cortes no livro. Em um paragrafo você está no jardim da casa da Alabama com ela conversando com um soldado sobre seus gotos e no paragrafo seguinte eles estão dentro de um clube de campo dialogado sobre amor, guerra e dança. As vezes ela se apropria de elipses (omissão de acontecimentos). Outra dificuldade para alguns leitores é o fato dos diálogos muitas vezes esparramados, sem marcação de personagem.
A minha dica é: Imagine que você esta vendo um filme, pois nos filmes estes "cortes" de uma cena para outra acontecem frequentemente. Então quando você estiver em um paragrafo e o de baixo não fizer sentido com o anterior, lembre-se dos formatos dos filmes. Já sobre os diálogos esparramados é simples, você sabe quem esta falando por dedução. Se o primeiro a falar foi David, a seguinte será Alabama, depois David e assim por diante.
Esta obra foi publicada pela primeira vez em 1932 no Estados Unidos com o título Save me the Waltz, numa tiragem de 3000 exemplares, e vendeu apenas 1300 na qual Zelda ganhou apenas $120.73(tecnicamente um fracasso!) E só foi publicada no Brasil em 1986 pela Companhia das Letras em pouca quantidade, por isso muitos não conhecem esta obra, pois a segunda tiragem no Brasil só aconteceu em 28/01/2014.
MOTIVOS PARA LER ESTA VALSA É MINHA
Claro que a história do casal e quem o escreveu já é um ótimo motivo pra ler. Mas este livro é rico em metáforas e tem uma representatividade para o universo feminino muito grande. A obra é um desafio, pela complexidade narrativa e sua estrutura, mas acho que nós temos que estarmos preparados para esses tipos de desafios. Ultrapassar essas barreiras e ver a obra por outra perspectiva. Esta obra é um poderoso documento histórico que fornece um retrato de uma época, da sociedade, da cultura, e da vida turbulenta de um dos casais mais fascinantes do século XX. Vale a pena ;)
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