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Segredos

  • Livia Guimarães
  • 13 de set. de 2016
  • 2 min de leitura

Coloco a mochila nas costas e olho para o céu . Do topo da montanha vejo o nascer do sol mais espetacular da minha vida. O horizonte em tons de vermelho encontra o degradê perfeito com as cores da terra no chão. Os primeiros raios de sol iluminam o meu rosto enquanto eu tento classificar tudo o que estou sentindo naquele momento, mas meus pensamentos estão voando alto, acima da raça humana.


Um amigo me tira do devaneio e aponta em direção a uma ruína situada na encosta de uma colina, tudo indica que é uma antiga igreja do seculo XVIII.

Enquanto caminhamos até lá, contemplo as imensas planícies de trigais que começam a despontar da áspera terra, e mentalmente faço uma reflexão interior sobre o significado da vida.


A busca pelo significado é semelhante a busca dos piratas pelo tesouro escondido. Você nunca o viu, mas já ouviu histórias sobre ele, e no fundo você acredita nelas.


Nos aproximamos da Igreja, um grande arco de pedras indica a entrada, mas não há portas, apenas a abertura pelo qual deveria haver uma. Tapo os olhos do meu amigo com as mãos ▬ Imagine os sinos anunciando uma missa em latim, e falo com um tom fantasmagórico "Per signum crucis, de inimicis nostris libera nos Deus noster. Amen." Ele faz o sinal da Santa Cruz.

Nós dois rimos.

As altas fundações em aparelho de pedra fazem eu me sentir pequena e efêmera, tudo é tão delicado e fugaz. Ao mesmo tempo, sinto raiva, pois não importa o quão longe você se encontra da civilização moderna, parece que sempre levaremos rastros de civilização conosco. E as ruínas me fez pensar que nunca pararemos de tentar domesticar a natureza, a qual, batalha aos socos e pontapés para existir.

Andamos uns 60 quilômetros até montarmos acampamento, tirei o fogareiro da mochila e comecei a preparar uma sopa, enquanto iniciávamos uma conversa: - Você não acha que mesmo nossos antigos símbolos da natureza, são profundamente antinaturais? Pense bem, as plantas que comemos são inchadas, estéreis, fortificadas. Nossos animais são caricaturas de ancestrais selvagens... - Sem falar nos cachorros, coitados, apenas um pedaço de tecnologia.

- Isso, sem falar nos cachorros...Até nós mesmos!

- Sabe, essa nossa viagem me fez perceber uma coisa.

- O que?

- Que o Éden é uma fantasia!

- Tive uma sensação parecida hoje cedo, nas ruínas, mas o pior é que fomos nós que expulsamos o mundo sabe, que o despimos e ensinamos o bem e o mal.

- E nos entrincheiramos em jardins murados.

- Não sabemos lidar com o verdadeiro estado da natureza, o verdadeiro caos, sem antes dividi-lo em pequenas caixas e em pequenos jardins. Mas apesar de tudo isso, tive uma epifania naquele lugar e todas as palavras parecem ter perdido o significado.

- O que você sentiu? - Senti cavalos selvagens correndo dentro de mim.



Livia Guimarães

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"FUI PARA OS BOSQUES VIVER DE LIVRE VONTADE. PARA SUGAR TODO O TUTANO DA VIDA. PARA  ANIQUILAR TUDO O QUE NÃO ERA VIDA E PARA QUANDO MORRER, NÃO DESCOBRIR QUE NÃO VIVI."

Henry David Thoreau

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